Quando o ex não paga pensão: seus direitos e o que fazer

A dor de cabeça começa quando a promessa feita no momento do divórcio não se cumpre. A pensão, que deveria ser paga com regularidade para garantir o bem-estar dos filhos ou de quem tem direito, simplesmente não cai na conta. Em vez de tranquilidade, o que chega é o medo, a revolta e a sensação de impotência diante da irresponsabilidade do outro.

Muita gente passa por esse tipo de situação e não sabe exatamente como agir. Há quem acredite que denunciar pode gerar ainda mais conflitos ou que a cobrança vai demorar demais para surtir efeito. Isso faz com que muitos atrasos se acumulem e que a parte prejudicada continue arcando sozinha com todas as despesas.

Mas o não pagamento da pensão alimentícia não é apenas um descuido. É uma violação de um direito garantido por lei. E o silêncio diante disso pode reforçar a impunidade de quem simplesmente decide parar de cumprir sua obrigação.

A boa notícia é que o sistema jurídico brasileiro tem instrumentos claros e eficazes para lidar com esse tipo de situação. E você não precisa — nem deve — enfrentar isso sozinho. Saber como agir é o primeiro passo para garantir justiça e estabilidade.

A seguir, entenda como funciona a cobrança, quais são seus direitos e o que pode ser feito quando o ex não cumpre com o que foi determinado judicialmente.

O papel do advogado de família

O papel do advogado de família

A primeira medida, na maioria dos casos, é procurar um profissional especializado na área. Um advogado de família pode orientar desde o início do processo, ajudando a interpretar o que diz a sentença de divórcio ou acordo homologado e indicando os melhores caminhos para cobrar a dívida.

Não se trata apenas de ir ao fórum e protocolar uma reclamação. A atuação estratégica do advogado pode evitar desgaste emocional, acelerar o andamento do processo e até evitar conflitos diretos entre as partes. 

Além disso, esse profissional é quem vai garantir que os valores estejam atualizados, considerando correção monetária e eventuais juros devidos.

Em muitos casos, também é possível solicitar que o valor seja descontado diretamente do salário ou da conta bancária do devedor. Essa medida depende do tipo de vínculo empregatício e da documentação que comprova o débito.

Quando o atraso se torna inadimplência

Nem todo atraso é tratado da mesma forma pela Justiça. Um ou dois dias fora da data podem ser considerados toleráveis, mas a partir do momento em que o valor deixa de ser pago de forma contínua e recorrente, a situação muda de figura.

Se a dívida ultrapassar três parcelas, consecutivas ou não, o responsável já pode ser considerado inadimplente. Isso permite a abertura de uma ação de execução, um processo que pode resultar em bloqueio de bens, penhora de contas e até prisão civil.

Em abril de 2023, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) registrou mais de 88 mil pedidos de execução de pensão alimentícia em curso nos tribunais do país. Isso mostra como a inadimplência é comum — mas também como ela pode ser judicialmente combatida com respaldo legal.

Caminhos legais para cobrança

Existem diferentes formas de cobrar a pensão em atraso, dependendo do tipo de ação e do tempo transcorrido. Veja alguns caminhos legais possíveis:

  • Ação de execução de alimentos: permite prisão civil caso o devedor não pague em até 3 dias após ser intimado.
  • Cumprimento de sentença: usado quando a pensão já foi determinada judicialmente e não está sendo paga.
  • Ação de alimentos gravídicos: aplicável a gestantes que dependem de ajuda financeira durante a gravidez.
  • Desconto direto na folha de pagamento: quando há vínculo formal de trabalho.
  • Protesto em cartório: pode restringir crédito e pressionar o pagamento.
  • Bloqueio judicial via BacenJud/SisbaJud: permite o rastreio e bloqueio de valores em contas bancárias.

Cada um desses caminhos tem particularidades e exigências. Por isso, o suporte jurídico é indispensável para escolher a melhor estratégia, especialmente quando há histórico de atrasos reincidentes.

Diferença entre dívida e abandono

Nem todo não pagamento é intencional. Há casos em que o ex perdeu o emprego, passou por dificuldades financeiras temporárias ou está em processo de recuperação. Isso não anula a obrigação, mas pode abrir espaço para revisão do valor ou renegociação, desde que haja transparência e ação judicial adequada.

Por outro lado, existem situações mais graves, em que o descumprimento vem acompanhado de afastamento afetivo, ausência total de contato e recusa deliberada em colaborar com a criação ou sustento dos filhos. 

Essa combinação configura o que muitos chamam de abandono material, e pode ter consequências legais ainda mais sérias.

O que fazer em caso de reincidência

Se o atraso é recorrente, com ciclos de pagamento e novas dívidas, é possível pedir medidas mais severas. A Justiça pode:

  • Registrar o nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito
  • Suspender carteira de motorista em alguns casos específicos
  • Impedir renovação de passaporte
  • Determinar bloqueio de bens e imóveis registrados

Essas medidas são aplicadas com base no histórico do caso e na análise do juiz responsável, respeitando o direito à ampla defesa. Mas servem como pressão legítima para quem tenta se esquivar da responsabilidade.

Pensões diferentes, regras diferentes

Pensões diferentes, regras diferentes

A palavra pensão alimentícia costuma ser usada para tudo, mas existem diferenças importantes. A pensão para filhos menores segue regras diferentes da pensão para ex-cônjuge, por exemplo. Em geral:

Filhos: têm direito até completarem 18 anos (ou mais, se estiverem cursando faculdade)

Ex-cônjuges: só recebem pensão se houver dependência econômica comprovada

Pensão provisória: aplicada em caráter emergencial, até que o valor final seja definido

 Atrasado de pensão prescreve?

Sim, mas com ressalvas. A dívida de pensão alimentícia prescreve em até 2 anos após a maioridade do filho, conforme o artigo 206, §2º do Código Civil. No entanto, para pensões que já foram ajuizadas ou acordadas judicialmente, o prazo pode ser diferente.

Isso significa que a cobrança precisa ser feita com atenção ao tempo. Quanto mais rápido você agir, maiores são as chances de recuperar os valores devidos — com juros e correções.

Valores podem ser atualizados

Um detalhe que muitas pessoas não sabem é que a dívida de pensão sofre atualização. Ou seja: o que era R$ 800 há dois anos, com juros e correção, pode se transformar em R$ 1.200 ou mais.

Esse cálculo deve ser feito com base nos índices oficiais de correção monetária, como o INPC ou o IPCA-E, e depende do que foi definido no acordo judicial. É mais um motivo para não deixar o tempo passar sem agir.

Conclusão

O não pagamento da pensão alimentícia não é um problema isolado nem sem solução. A legislação brasileira oferece instrumentos eficazes para cobrar e garantir os direitos de quem depende desse valor para viver com dignidade.

E você, já pensou em quanto tempo passou aceitando os atrasos por medo, cansaço ou falta de orientação?

Buscar apoio jurídico não é exagero. É uma forma legítima de restabelecer o que é justo, principalmente quando há filhos envolvidos. A regularização da pensão protege não só os direitos financeiros, mas também o equilíbrio emocional de quem vive esse conflito todos os meses.

Se for o seu caso, o melhor caminho é agir com informação e respaldo legal. Com o tempo, o que parecia uma batalha sem fim pode se tornar um processo mais simples e resolvido.