
A Doença de Scheuermann, também chamada de cifose juvenil, aparece na fase de crescimento e deixa as costas mais arqueadas, formando um “corcunda” visível. Muitos jovens notam dor entre as escápulas após longas horas sentados e dificuldade para manter o tronco ereto.
Pais e professores costumam perceber a postura curvada no computador ou na carteira escolar. O quadro não surge por preguiça ou “falta de postura”. O osso das vértebras muda de formato durante o estirão e isso altera o desenho natural da coluna torácica.
Essa alteração ocorre quando algumas vértebras crescem mais na parte posterior do que na anterior, criando um aspecto de “wedge” (cunha). Com isso, a curvatura torácica aumenta. O adolescente pode sentir músculos cansados, rigidez ao acordar e sensibilidade ao toque na região central das costas.
Em muitas situações, a autoestima sofre impacto, pois a curvatura fica aparente nas roupas. Um ponto importante: Scheuermann não é escoliose, embora as duas condições possam coexistir em alguns casos e confundir a família.
Os sinais mais comuns incluem dor torácica ou lombar leve a moderada, piora no fim do dia, rigidez para inclinar o tronco e ombros projetados à frente. Em quadros marcantes, a cabeça se posiciona mais à frente do corpo.
A avaliação médica analisa o histórico, observa a postura em pé e sentado e solicita radiografias específicas para medir o ângulo da cifose. Essas imagens mostram vértebras com formato de cunha e irregularidades nas placas terminais, o que ajuda a confirmar o diagnóstico e orientar o plano de cuidado.
Por que acontece
Conforme explica o Dr. Aurélio Arantes, médico especializado em coluna, na fase de crescimento acelerado, o corpo alonga rápido e a musculatura nem sempre acompanha. Em Scheuermann, a parte frontal de algumas vértebras cresce de forma diferente da parte posterior.
O resultado é uma curva maior no tórax. Fatores genéticos e hábitos de vida podem influenciar. Passar muitas horas sentado, sem pausas, favorece dor e rigidez, mas não é a causa direta. A boa notícia é que, com acompanhamento, rotina de exercícios e ajustes no dia a dia, muita gente melhora bem a postura e controla a dor.
Como o especialista avalia
Na consulta, o ortopedista examina a postura de perfil, mede a flexibilidade e observa encurtamentos em posterior de coxa e peitoral. A radiografia de coluna em pé mostra o ângulo da cifose e o número de vértebras envolvidas.
Em alguns casos, a ressonância magnética entra para avaliar discos e estruturas adjacentes, principalmente quando existe dor persistente, formigamento ou suspeita de outra condição associada. Com base nesses dados, o médico define se o tratamento será apenas conservador, com fisioterapia e fortalecimento, se haverá uso de colete ou se é necessária outra abordagem.
Tratamentos que costumam ajudar

Exercícios terapêuticos: alongamentos para cadeia posterior (isquiotibiais, glúteos e panturrilhas), mobilidade torácica e fortalecimento de paravertebrais, glúteos e abdômen profundo. O objetivo é sustentar melhor a coluna e reduzir a sobrecarga.
Higiene postural no estudo e no computador: cadeira com apoio lombar, tela na altura dos olhos, pés bem apoiados, pausas a cada 40–50 minutos para levantar, respirar fundo e mover os ombros. Pequenos ajustes repetidos ao longo do dia fazem diferença real no conforto.
Atividades físicas seguras: natação, pilates clínico, bicicleta ergométrica ajustada, caminhada com passada confortável. O foco é manter movimento sem dor. Esportes de impacto podem ser retomados gradualmente, seguindo orientação profissional.
Colete ortopédico: indicado em casos selecionados, principalmente durante o estirão, quando a curva ainda pode progredir. O colete não “endireita” tudo sozinho, mas ajuda a controlar o ângulo enquanto os exercícios trabalham a base muscular.
Controle da dor: compressas mornas, técnicas de respiração para relaxar a musculatura torácica e, quando indicado pelo médico, analgésicos. A meta é permitir treino constante, sem depender de remédios a todo momento.
Exercícios simples do dia a dia
Deitado de barriga para baixo (prona): apoie a testa nas mãos e respire abrindo as costelas. Mantenha por 2–3 minutos. Essa posição favorece a extensão torácica leve.
Alongamento de peitoral na parede: antebraço apoiado, cotovelo a 90°, gire o tronco para o lado oposto e segure 30–40 segundos. Repita dois a três ciclos por lado. Ombros “destravados” aliviam a sensação de peito fechado.
Mobilidade com rolo: deite sobre um rolo de espuma na região torácica e faça leves extensões, sem dor. Três séries de 8–10 repetições costumam trazer conforto.
Fortalecimento de escápulas: puxe elástico mantendo cotovelos junto ao corpo, contraia entre as escápulas por 2 segundos e retorne devagar. Duas a três séries de 10–12 repetições.
Vida escolar e rotina
Mochila com duas alças, ajustada ao tronco, ajuda a distribuir o peso. Cadernos e livros que não serão usados no dia podem ficar em casa. Na sala de aula, vale alternar momentos sentado e em pé durante intervalos.
Em casa, crie um “cantinho” de estudo com altura de mesa e cadeira adequadas. O adolescente pode usar lembretes no celular para fazer micro-pausas. Essas pausas curtas evitam acúmulos de tensão e reduzem a vontade de se curvar por cansaço.
Quando buscar um especialista
Sinais de alerta incluem dor que acorda à noite, formigamentos, perda de força, queda no rendimento esportivo e piora rápida do arco torácico.
Um dos melhores ortopedistas de coluna em Goiânia explica que, nesses casos, a avaliação com um especialista é essencial para garantir segurança e direcionamento. Vale buscar essa consulta para discutir o diagnóstico e definir um plano de cuidado personalizado.
O que não é mito
Postura “perfeita” o dia todo não existe. O corpo precisa variar posições. Ficar imóvel, mesmo reto, cansa e dói. O segredo está no equilíbrio entre alongar, fortalecer e organizar o ambiente.
Outra ideia importante: o crescimento não “conserta” sozinho a curvatura. O osso que ganhou formato de cunha não volta ao formato original, mas a musculatura pode compensar parte dessa alteração, o que melhora a estética e o conforto ao longo dos anos.
Expectativas realistas
Com diagnóstico precoce e rotina bem conduzida, muitos jovens reduzem dor, ganham resistência e convivem bem com a coluna. A curvatura não precisa definir a vida escolar, esportiva ou social. Ajustes simples, feitos com constância, somam.
A família ajuda criando horários de exercício, escolhendo uma estação de trabalho confortável e incentivando atividades que dão prazer. O progresso aparece em etapas: primeiro o alívio da dor, depois a melhora da resistência, e, por fim, mudanças visíveis na postura geral.
Perguntas rápidas

É culpa do celular? O uso prolongado agrava dor e rigidez, mas não cria a doença. O que ajuda é pausar, alongar e aproximar a tela da altura dos olhos.
Precisa de cirurgia? A grande maioria responde bem a tratamento conservador. Cirurgia entra apenas em casos específicos, com curvas muito acentuadas e sintomas importantes.
Academia atrapalha? Treino bem orientado ajuda. Trabalhos de costas, glúteos e abdômen dão suporte à coluna. Evite cargas que provoquem dor e ajuste a técnica com orientação.
Passos práticos para começar hoje
Organize o posto de estudo, programe três pausas curtas no período da manhã e três à tarde, faça o trio alongar–mobilizar–fortalecer em 20 a 30 minutos e marque uma avaliação para definir metas realistas.
Guarde um caderno de progresso: anote dor de 0 a 10, tempo sentado, exercícios feitos e como o corpo reagiu. Esse diário simples mostra evolução e motiva o jovem a seguir firme no cuidado com a coluna.